Ana Lidia

Ana Lidia

Engenheira Elétrica de Computadores pela FEI, MBA em IT Management pela FGV, certificada pelo PMI como Project Management Professional, com cursos de extensão no MIT e em Harvard sobre transformação digital.

Empresas buscam conselheiros com bagagem em TI

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Como atualmente as atividades de TI permeiam as estratégias de praticamente todas as áreas das companhias, muitas já estão preocupadas em ter um especialista do setor dentro de seus conselhos de administração.

O movimento tem se consolidado especialmente nos Estados Unidos, onde varejistas como o Walmart tem entre os integrantes do ‘board’ Marissa Mayer, ex-executiva do Google e atual comandante do Yahoo, e Kevin Systrom, CEO e cofundador do Instagram. Outro caso é a P&G, que conta com Meg Whitman, ex-presidente do eBay e atual Hewlett-Packard, em seu conselho. Já na indústria farmacêutica, um dos exemplos é a Pfizer, que incluiu Shantanu Narayen, CEO da Adobe, no ‘board’.

No Brasil ainda são poucos os executivos de TI que fazem parte dos conselhos de administração de empresas. Um deles é Nelson Wortsman, de 68 anos, que foi CEO da Sharp e da CCE, além de diretor da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom). Essa experiência foi fundamental para integrar o ‘board’ da Flytour, companhia do setor de turismo.

“Toda empresa de serviço é, basicamente, de processos. Analisá-los profundamente e automatizá-los ajudam a aumentar a competitividade, buscando diminuição dos custos e maior rapidez nos resultados”, afirma. Para ele, a boa gestão do negócio está ligada à área de TI, e quem quer abrir capital ou uma operação de fusão precisa estar bem preparado tecnologicamente. “Os investidores exigem que as organizações tenham um sistema de gestão de primeira linha.”

Wortsman afirma que há cerca de dez anos já planejava ser conselheiro – há três começou a atuar na função. Desde o começo do ano passado dedica-se exclusivamente à atividade de conselheiro. Além da Flytour, ele participa do conselho de uma companhia de soluções tecnológicas de software.

De acordo com Francisco Britto, diretor da Consultoria de Soluções, a predominância nos conselhos ainda é de executivos financeiros. Em sua opinião, há certa miopia em parte das corporações sobre a necessidade de se ter alguém que entenda especialmente do meio digital entre os conselheiros. Já em relação aos profissionais dessa área, é escassa a oferta dos que poderiam ocupar essa cadeira. “Às vezes, alguém com enfoque na questão digital pode agregar muito mais que uma pessoa de finanças no que diz respeito à performance organizacional. Contudo, um diretor de TI ou CIO ainda está muito preso ao dia a dia.”

Além disso, Britto ressalta que em empresas de tecnologia ou startups de internet existe o perigo de se considerar que, por se tratar do “core business”, não existe a necessidade de se ter alguém com esse background específico. “Cria-se a soberba de não se valer dessa visão externa sobre problemas e oportunidades”, afirma.

Na Zenvia, companhia de serviços móveis, o CEO, Cassio Bobsin, também exerce a função de conselheiro – ele ainda integra ‘boards’ em startups que lidam diretamente com tecnologia. Na sua visão, a importância de um profissional com essa bagagem no conselho passa por aspectos como inovação, eficiência e governança. “Sem ele, falta um parecer fundamental para as tomadas de decisão.”

Para Luiz Marcatti, sócio da Mesa Corporate Governance, muitas companhias ainda veem a tecnologia como ferramenta, e não como um componente estratégico a ponto de requerer um membro no conselho de administração. “Existe também o viés de escolher como conselheiro alguém do setor em que a empresa atua”, diz.

Há ainda o aspecto de os profissionais de TI e digital, no geral, serem mais novos – um perfil distinto do tradicionalmente encontrado em conselhos de administração. “É preciso quebrar esse paradigma”, diz Rodrigo Byrro, vice-presidente da companhia de recrutamento de executivos Fesa. “Pessoas jovens, com outra mentalidade, ajudam a pensar de formas diferentes, a propor outros modelos de negócio.”

Fazer um melhor uso de ferramentas como big data, computação em nuvem e redes sociais nos processos corporativos são alguns exemplos. “As empresas podem perder competitividade se não olharem para essas tendências de inovação”, complementa Renata Klee de Vasconcellos, diretora e responsável pela célula de TI, telecom, mídia, comunicação e serviços profissionais da Fesa. “Tecnologia faz parte da operação, é intrínseca ao negócio.”

Na avaliação de Luís Giolo, diretor-geral da empresa de recrutamento Egon Zehnder, a maior demanda das empresas é por profissionais de tecnologia para cargos executivos. “Elas enxergam que é necessário mexer em seus conselhos. Existe um incômodo, mas não as vejo atuando nisso”, afirma. “Há ainda a influência da questão cultural, segundo a qual os conselheiros têm cabelos brancos e 50 e poucos anos. Ou seja, um perfil mais sênior e muitas vezes uma dedicação em tempo integral.”

Mesmo para encontrar pessoas especializadas em assuntos digitais para postos executivos há dificuldade, de acordo com Giolo. Um diretor de marketing com essa característica, exemplifica, tem sido bastante procurado, mas a oferta é limitada, e os que existem são bastante disputados no mercado. “Profissionais com essa especialização são importantes principalmente por uma questão óbvia: a diversificação dos canais de venda”, diz.

E são as empresas de varejo, em particular, as que mais se movimentam no Brasil para incorporar esses especialistas em seus conselhos, na percepção de Luis Filipe Cavalcanti, CEO da APPI, fornecedora de soluções tecnológicas para o mercado de meios de pagamento. Essa é uma tendência que ele diz já ter observado quando morava nos Estados Unidos, há cerca de quatro anos.

Segundo o executivo, algumas empresas tradicionais do ramo de varejo já tinham essa visão, preocupadas em não serem surpreendidas por fenômenos como a Amazon – especialmente com a ascensão dos smartphones. Além disso, as empresas de mídias tradicionais também estão atentas a como fazer a transição para o digital envolvendo redes sociais e mobile. “Na própria indústria de pagamentos americana, em que surgiram várias startups com foco no chamado mobile payment e em varejo digital, o avanço da tecnologia trouxe para as empresas estabelecidas o desafio de saber incorporar essas tendências ao seu portfólio, levando a repensar a formação dos conselhos e da própria equipe executiva”, enfatiza.

Cavalcanti conta que, de dois anos para cá, varejistas brasileiros também passaram a buscar profissionais com esses conhecimentos para serem conselheiros. Ele mesmo considera a hipótese de passar a exercer esse papel já a partir do ano que vem, caso surja a oportunidade.

Em 2013, o engenheiro eletrônico Armando de Toledo Filho, atualmente com 51 anos e diretor de marketing de serviços para a América Latina da IBM, resolveu pensar no que vai fazer após a aposentadoria e se matriculou em um curso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) para receber orientações sobre o trabalho de conselheiro. Quando saiu à procura de uma chance para desempenhar a função, diz ter notado um descompasso entre o perfil que se espera de um membro de conselho – alguém com grande experiência – e o que em geral um profissional de tecnologia tem a oferecer- conhecimentos provenientes de um mundo em que tudo se move rápido demais.

Sem muito espaço nas companhias tradicionais, encontrou um atalho para “construir um currículo” como integrante de ‘boards’ em uma ONG, o Laboratório de Educação, que desenvolve conteúdos pedagógicos. Sua primeira reunião aconteceu no começo deste ano. “Para eles é interessante minha bagagem em TI”, diz Toledo Filho, que está há 26 anos na IBM.

Créditos: Zenvia

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